O parlamento português vai aprovar a despenalização da morte assistida

Um dos argumentos que se opõe à despenalização da eutanásia é o de que uma decisão com esta sensibilidade não pode ser tomada sem um referendo.

Um dos argumentos que se opõe à despenalização da eutanásia é o de que uma decisão com esta sensibilidade não pode ser tomada sem um referendo. Source: SBS News

Por entre discussões com grande tensão, frente liderada pelo Partido Socialista, e com oposição da Igreja Católica, diz ter maioria para a aprovação


Por entre discussões com grande tensão, parlamento português vai, nesta quinta-feira, aprovar 20 de fevereiro, a descriminalização da eutanásia ou morte assistida.

Os deputados do Partido Socialista, do Bloco de Esquerda, do Partido dos Animais e da Natureza e o da Iniciativa Liberal, a que deverão juntar-se alguns do PSD garantem robusta maioria ara aprovação da lei de despenalização.

O tema é, obviamente, muito delicado. Por isso mesmo, o PS, proponente do texto que deve ser o definitivo, salvaguarda no preâmbulo: “não se trata da afirmação de qualquer direito constitucional à eutanásia, mas do reconhecimento legal” da possibilidade de uma pessoa dispor da própria morte em circunstâncias especiais. E embora assumam que o direito à vida goza de dever de proteção por parte do Estado, salvaguardando o indivíduo de ameaças de terceiros, os socialistas defendem que os cidadãos têm de ter “um espaço legalmente reconhecido de decisão quanto à sua própria morte”.

Há uma frente muito ativa, encabeçada por pessoas ligadas à igreja católica e enquadradas por partidos à direita (mas também pelo Partido Comunista Português) que se opõem vigorosamente ao que chamam de legalizar o direito a matar, formulação constantemente rejeitada pelos proponentes que insistem: o que está em causa é despenalizar a eutanásia em situações especiais, de sofrimento irreversível, fora das quais a eutanásia continuará a ser crime.

Um dos argumentos que está a ser usado pela frente que se opõe à despenalização da eutanásia é o de que uma decisão com esta sensibilidade não pode ser tomada pelos deputados, só poderá ser pelo conjunto do povo em referendo.

A parte contrária, a dos proponentes contra-argumenta: os deputados são eleitos pelo povo, representam-no. E insiste: A morte assistida consiste no acto de, em resposta a um pedido do próprio - informado, consciente e reiterado — antecipar ou abreviar a morte de doente em um manifestos em grande sofrimento e sem esperança de cura. A morte assistida é um direito do doente que sofre e a quem não resta outra alternativa, por ele tida como aceitável ou digna, para pôr termo ao seu sofrimento. É um último recurso, uma última liberdade, um último pedido que não se pode recusar a quem se sabe estar condenado. Nestas circunstâncias, a morte assistida é um acto compassivo e de beneficência.

Apesar desta argumentação, a parte que se opõe à descriminalização da morte assistida está hiperativa a juntar assinaturas em uma petição para forçar que o tema seja submetido a referendo. No último fim de semana em Portugal houve intensa campanha de recolha de assinaturas à porta de templos religiosos.
Um estudo de opinião recém-realizado mostre que mais de metade dos inquiridos num estudo do Instituto Universitário Egas Moniz é favorável à eutanásia, e os que manifestaram atitudes mais desfavoráveis são os mais velhos, com menor nível de escolaridade e que se identificam com uma religião.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, guarda silêncio sobre o tema eutanásia, mas governo e parlamento, ao serem a favor, vão impor esta descriminalização da morte assistida assumindo que ela é tão só uma questão de concreta humanidade e de amor ao próximo que está em sofrimento terminal.

Share
Follow SBS Portuguese

Download our apps
SBS Audio
SBS On Demand

Listen to our podcasts
Independent news and stories connecting you to life in Australia and Portuguese-speaking Australians.
What was it like to be diagnosed with cancer and undergo treatment during the COVID-19 pandemic?
Get the latest with our exclusive in-language podcasts on your favourite podcast apps.

Watch on SBS
Portuguese News

Portuguese News

Watch in onDemand